João Wesley, o pai do Movimento Wesleyano, nos ensina a como
nos comportar diante das divergências de opiniões teológicas e eclesiológicas:
As espessas e ofuscantes poeiras das
opiniões – suscitadas pelos doutores, concílios e sínodos, surgiam diante de
Wesley. Em vários momentos, não sem alguma aspereza, ele rechaçou-as. Ele
considerava Martinho Lutero e João Calvino como grandes homens de Deus, mas se
lamentava “dos fortes apegos e opiniões particulares deles; das amarguras
divergentes, sobre as opiniões dos outros, demonstradas por eles; da
impaciência e da falta de tolerância deles”. Ele se recordava com tristeza das
controvérsias sobre costumes e liturgias que dividiram a Inglaterra. Seu
veemente desejo era que o novo despertar preconizado pelo Metodismo, sem falsa
modéstia, suplantasse essas coisas. [Mateo Lelievre].
Palavras de João Wesley:
“Não daremos atenção – em hipótese
alguma – às opiniões que versem sobre quais tipos de religiões são falsas ou
verdadeiras, e não tomaremos partido por nenhuma delas. Sabemos que o
fundamento de toda religião consubstancia-se na santidade do coração de na vida
cristã diária. E, portanto, em qualquer lugar que formos, insistiremos nisso,
com todas as nossas forças.
Recusaremos seguir aos que se apartam da igreja
anglicana, e nos ateremos às doutrinas e às disciplinas da igreja. Só queremos
combater a impiedade e a injustiça.
Muitos desperdiçam grande parte do seu
tempo e de suas forças, combatendo assuntos puramente insignificantes. Queremos
de outra sorte, aproveitar nosso tempo, promovendo a religião simples e
prática.
Se disseres a mim: não cremos que suas
opiniões são verdadeiras, eu vos responderei: verdadeiras ou falsas, não vou
contender convosco.
Certificai-vos, somente, que vossos
corações sejais retos diante de Deus; que conheceis e ameis o Senhor Jesus
Cristo; que ameis o vosso próximo e andeis como vosso Mestre andou. Não
perguntarei mais nada a vós. Estou farto de opiniões. Estou cansado de vossas
palavras. Minha alma está enojada dessa comida desnutrida.
Dai-me uma religião sólida e
substancial. Apresentai-me alguém humilde, amigo de Deus e dos homens; alguém
cheio de misericórdia e de bons frutos; alguém sem parcialidade e sem
hipocrisia; alguém que se doe totalmente à obra da fé, à paciência da
esperança, ao labor do amor. Que minha alma esteja apegada a tais cristãos em
qualquer lugar que eles estiverem, e atenta a quaisquer que sejam suas
opiniões. ‘Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai Celeste, esse é meu
irmão, irmã e mãe’ (Mt. 12.50).
É uma pobre desculpa querer dizer:
‘Essas pessoas são levadas a adotar opiniões errôneas.’ Eu não quero saber qual
é a espessura de um argueiro; se isso ou aquilo é verdade ou não! (atenho-me,
sim, a questões que não mudem os fundamentos cristãos). Mas quanto, a saber, se
elas acatam uma ou outra opinião religiosa, não me interessa; nem tão pouco se
elas adotam a um ou outro sistema de astronomia.
São elas impulsionadas para viver uma
vida santa? É disso que nos importa saber, pois se trata de sua felicidade
pessoal, social, temporal e eterna. São elas conduzidas ao amor de Deus e do
próximo? Essa é a religião pura e sem mácula." [João Wesley].
Fonte: Teologia de John Wesley. Mateo Lelievre. Editora Sal
Cultural p. 18 e 19.
P.S.: Recomendo com fervor que leiam o sermão 39 de João
Wesley chamado o Espírito Católico (ou o Espírito Universal) que trata de forma
mais detalhada essa perspectiva sobre a tolerância em Wesley.
Nenhum comentário:
Postar um comentário